O crocodilo abriu a boca, repleta de colmilhos enormes e afiados,
e o curado começou a esvoaçar…
— Para! – soprou o vento.
— Não continues! – saltou o canguru.
— Trava! – salpicou o lago.
— É uma loucura! – exclamou o coala.
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O crocodilo abriu a boca, repleta de colmilhos enormes e afiados,
e o curado começou a esvoaçar…
— Para! – soprou o vento.
— Não continues! – saltou o canguru.
— Trava! – salpicou o lago.
— É uma loucura! – exclamou o coala.
— Tu cura-te! – bicou-lhe a avestruz.
— NÃÃÃÃOOOO! – gritaram todos.
De um modo divertido, Pilu, pilu! dá a conhecer aos mais pequenos a possível origem acerca da relação real entre os crocodilos e os pássaros pluviailis, mais conhecidos por pássaros-palito ou curados. Esta ave limpa-lhes a boca de restos de comida, de parasitas como sanguessugas e outros invertebrados.
Este pequeno pássaro desempenha também a função de guardião. Graças ao seu canto ? o recorrente pilu, pilu! que dá nome à história ? avisa os crocodilos acerca de possíveis perigos. Em contrapartida, tem alimento garantido durante o ano inteiro.
Na sua primeira colaboração para a OQO editora, Susanna Isern recorre ao estilo clássico dos contos para recriar a origem desta simbiose entre espécies de uma forma engraçada e divertida.
Desta forma, a história arranca com a tradicional estrutura acumulativa: Escondido naquele canto tão afastado, em terra firme e junto ao lago… Um ninho! E entre os seus raminhos… Um curado!
Através desta espécie de matrioska o leitor é colocado no lugar da ação e é apresentado aos dois protagonistas: um passarinho e um crocodilo que estão na selva.
Todas as tardes, depois de almoçar, o crocodilo deitava-se ao sol e, com os olhos cheios de lágrimas, olhava para o céu e suspirava: AAAIII!… Todas as tardes, o curado olhava com curiosidade para o crocodilo. — O que terá ele? – questionava-se.
É esta incógnita o que leva o passarinho a consultar cada um dos animais da selva para resolver a origem do estado do réptil. Umas pesquisas de que o leitor é partícipe graças à narração da autora catalã. Através deste périplo, as crianças poderão conhecer outros animais da selva ? o coala, a avestruz e o canguru ?, ao mesmo tempo que se divertem com as suas engenhosas respostas e especulações.
Contudo, o caminho mais fiável para descobrir o que está a acontecer costuma ser o mais curto. Porém, às vezes precisamos de nos perder por outros mais longos para chegar a esta conclusão. Algo habitual em qualquer aprendizagem. E é isto que acontece à nossa diminuta e nada temerosa ave.
O seu tamanho não a impede de se arriscar e o seu caráter inocente e confiante não constitui um obstáculo para conseguir sobreviver num mundo hostil como é a selva, pelo contrário.
A autora destaca que tentou transmitir neste álbum a mensagem de que “não se devem subestimar os outros, por mais insignificantes que pareçam”. Por isso no fim, é um “pequeno e indefeso” pássaro que resolve o problema de um “enorme e temível” crocodilo.
A candura dos dois protagonistas é transmitida também pela paleta de cores escolhida por Katharina Sieg, que aceita o desafio da ambientação cromática proposta por Susanna Isern: Perdido numa selva longínqua, verde-escuro quase castanho…
A ilustradora alemã combinou aguarelas e lápis para criar um mundo de cores sugestivas, com pequenas criaturas e objetos ocultos entre os ramos. Deste modo, criou divertidas histórias paralelas, que não estão explícitas no texto “para serem descobertas por um leitor observador e atento”.
Naquele que é também o seu primeiro trabalho para a OQO editora, Sieg transmite nas formas redondas e gestos encantadores com que dá vida às personagens, a honestidade e a inocência com que foram modelados através do texto. Uma simbiose entre ilustração e narração, tão perfeita como a do crocodilo e a do curado.
Um álbum para despertar a curiosidade do leitor e alimentar a sua vontade de saber para, deste modo, descobrir que nunca devemos acreditar nas aparências.
Uma história que nos convida a acreditar nas boas intenções e a confiar nos outros, e que exalta valores como a amizade e o companheirismo.
Texto de Susana Isern
Ilustrações de Katharina Sieg
Tradução do espanhol Elisabete Ramos