Aquele rapaz passava o tempo em cima de uma árvore muito alta. A mãe, da janela, gritava-lhe: «És um menino terrível!». E assim se passavam todos os dias do ano, tanto e tantas vezes seguidas que se esqueceu do seu próprio nome. Só que num estranho dia de Maio, o menino terrível descobriu na copa da árvore um ovo de pássaro…
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Aquele rapaz passava o tempo em cima de uma árvore muito alta. A mãe, da janela, gritava-lhe: «És um menino terrível!». E assim se passavam todos os dias do ano, tanto e tantas vezes seguidas que se esqueceu do seu próprio nome. Só que num estranho dia de Maio, o menino terrível descobriu na copa da árvore um ovo de pássaro…
No âmbito da identidade, os nomes próprios têm relação com as questões: «Quem sou eu?», «Quem somos nós?». A ausência de nome, como acontece ao protagonista desta história, implica uma mudança de identidade, passando a ser assumido apenas por um adjectivo negativo, a partir daquilo que os outros pensam dele.
O menino terrível é constantemente recriminado e apenas tomará consciência do afecto quando observar o amor com que as mães tratam os filhos. Nesse momento, o menino terrível reconhece o amor que nunca tinha recebido como uma necessidade primária, imprescindível à sobrevivência.
Tal como Cósimo, o barão trepador de Italo Calvino, o protagonista desta história usa a altura para tomar a distância necessária de um mundo que não partilha; uma distância que lhe proporciona liberdade e uma nova perspectiva do mundo, das pessoas e dos acontecimentos a partir dos quais se poderá reconstruir a si próprio.
Um livro sem idade, que se oferece como material de reflexão sobre a importância do afecto e da interajuda, que nos ajuda a observar pormenores que podem passar inadvertidos e que, na realidade, são aqueles que delineiam a personalidade de um indivíduo. Jogando com um bicromatismo de negros e vermelhos, Susanne Janssen apresenta-nos um imaginário narrativo muito particular com perspectivas impossíveis. A ilustradora trabalha com eficácia a psicologia das personagens, articulando a dureza e a doçura nos rostos de cada uma, onde o olhar adquire uma especial importância. Sem dúvida, um trabalho plástico de grande impacto e força expressiva que toca todos os leitores. Esta é a primeira obra que a reconhecida ilustradora alemã edita em Portugal e em Espanha.
Texto de Anna Castagnoli
Ilustrações de Susanne Janssen
Tradução Dora Batalim Sottomayor