Sem categoria

Zimbro

Arturo Abad & Joanna Concejo

ISBN 978-84-9871-344-2

15,00

Quantidade:
INFORMACIÓN
  • Páginas 36 págs.
  • Encuadernación cartonado
  • Medidas 22x28 cm
  • Publicación outubro 2012

 

A cada corda que Zimbro cortava,

o Marionetista sentia que se partiam

os fios que lhe apertavam a alma.


Descrição

 

A cada corda que Zimbro cortava,

o Marionetista sentia que se partiam

os fios que lhe apertavam a alma.

Há laços que se devem cortar para que outros ? como aqueles que o afeto constrói ? nunca se cortem. Esta história emotiva tanto na prosa lírica de Arturo Abad, como nas sugestivas ilustrações de Joanna Concejo põe a tónica no quão doloroso pode ser deixar partir as pessoas de quem gostamos.

Partir e deixar partir nada tem a ver com deixar de amar. Arturo Abad coloca o leitor dos dois lados do espelho e oferece uma visão equânime da situação. Deste modo, comove por igual, tanto com a tristeza que gera a falta de liberdade ao boneco de cedro Zimbro, como com a aflição que provoca ao Marionetista a partida de quem estima como um filho e que desejaria que permanecesse sempre ao seu lado.

É fácil compreender a frustração e a apatia de Zimbro face à sua vida atual: carente de autonomia e de independência. As possibilidades de deslocação e de conhecimento estão limitadas pelos fios e pelo manuseamento que o Marionetista faz deles. Isto impede-o de desfrutar plenamente do seu particular microcosmos e de conhecer lugares, gente nova e poder experimentar por si próprio.

Arturo Abad consegue que o leitor partilhe estes desejos com Zimbro, apesar de a privação de liberdade provir da prisão de ouro que implicam os cuidados e o carinho do Marionetista. Este facto reforça o caráter valente e heroico do protagonista, que poderia escolher uma existência confortável, onde tudo lhe é oferecido, sem esforços nem preocupações.

Uma situação vivida por heróis mitológicos, como Ulisses com a bela ninfa Calipso, uma referência literária e uma atitude vital que não é casual por parte do autor e que já adianta na bonita dedicatória: Para a minha irmã Penélope, que preferiu deixar de coser e empreender a busca de Ítaca.

De igual modo, o leitor emociona-se com a situação daquele que é abandonado. O texto transmite com tato e ternura a prostração do Marionetista, para quem cada uma das suas criaturas de madeira são esses filhos que um pai deseja que nunca cresçam e que permaneçam sob o seu mimo e cuidado (os fios), correndo o risco não só de os superproteger, como também de impedir a sua felicidade.

Esta personagem, longe de nos parecer um carcereiro, desperta empatia devido à sua capacidade de antepor os desejos de quem ama aos seus e de se saber pôr no lugar do outro. Fórmula muito predicada, mas de difícil execução:

O Marionetista sentiu um aperto no peito. — Não posso dar-te isso! – protestou ele.

Mas as pupilas aflitas de Zimbro olharam-no lá do fundo do palco e o Marionetista recordou que o mais difícil para se ser feliz é descobrir o que se deseja.

Neste caso, a virtude da generosidade do Marionetista não reside unicamente em aceitar a independência de Zimbro, mas antes em dispor-se a colaborar. «A história nasceu quando numa conversa surgiu a frase “se eu fosse uma marioneta, cortava os fios”. Adorei a imagem de uma marioneta cujo único desejo fosse arranjar uma tesoura para se libertar. Isso levou à metáfora do pai que sofre o processo de aceitar a independência dos filhos e de participar também nela, o que é ainda mais duro», admite com carinho em relação às suas personagens Arturo Abad.

Uma doçura reforçada pelo mimo e pela delicadeza com que Joanna Concejo dá vida a estas personagens. Ilustrações, tal como todas as suas, carregadas de poesia que acompanham na perfeição a prosa rítmica do escritor.

“Estava a desejar voltar ao preto e branco, a minha técnica favorita devido ao seu caráter simples, natural e evidente”, aponta com entusiasmo a ilustradora polaca que conta na OQO com trabalhos premiados como Fumo (White Raven 2009) e Quando não encontras a tua casa.

Tal como nas outras duas colaborações com a OQO, Joanna Concejo volta a desenhar a lápis, uma preferência que atribui ao facto de, mesmo que possa parecer “pobre”, o resultado é “mais potente” e as imagens “têm muito mais força dramática”.

Como é habitual nos seus trabalhos, reserva a cor para os momentos mais felizes do livro. Assim, quando Zimbro ? a quem Joanna Concejo também descreve como um “herói” ? se sente livre, é quando se produz “uma explosão de cor”, ao corresponder ao momento “culminante” da história.

A cor permanecerá depois em pequenos “toques” ou pinceladas para realçar a ainda presença do protagonista: “as suas ideias permanecem para dar esperança àqueles que ficam”, da mesma forma que este álbum a dá a todos os que desfrutam da sua leitura.

Texto de Arturo Abad

Ilustrações de Joanna Concejo

Tradução Dora Batalim Sottomayor